Sempre tive dificuldade em compreender a frase "Quanto mais conheço as pessoas, mais gosto do meu cão.". Acho que só se justifica quando se teve o azar de ter uma família completamente disfuncional, muita falta de amor, muitos problemas sociais. Sim, os cães e o gatos e os coelhinhos e os periquitos são giros e engraçados mas, calma, estão muito longe de poder ser comparados a pessoas. Cada vez mais há uma tendência para as pessoas se agarrarem emocionalmente aos seus animais de estimação de uma forma quase obsessiva e que a mim me parece pouco saudável. Que se estime os animais, muito bem. Que se lhes dê carinho, atenção, cuidados, ótimo. Mas, calma...
Julgo que somos cada vez mais solitários e tentamos colmatar as nossas deficiências de atenção e carinho interpessoal pela parca troca de emoções possível com animais. E sim, é verdade que eles estão sempre lá. Dás-lhe uma sapatada e o canito, coitadinho, volta para a tua beira sem te pedir nada em troca. Fácil. As pessoas exigem um bocado mais... não te dão muito e pedem tanto! São complexas, têm humores, têm opiniões, têm dias maus, precisam que lhes oiças... são chatas, difíceis.
Eu gosto de pessoas e das suas complicações e exigências. Adoro crianças, as minhas e a dos outros. Adoro o barulho das gargalhadas, dos gritos, das birras, das conversas, das discussões. Adoro observar rostos, expressões. Adoro pessoas.
Há uns dias almocei com uma mulher que, em meia dúzia de frases, representou tudo aquilo que cada vez mais observo e menos me custa a entender.
- A minha irmã ainda está de férias... Estou cheia de saudades... - Desabafou ela.
- Ah... pois, vocês vivem juntas, não é? É normal que sintas falta dela. - Disse eu.
- Sim, vivemos, mas estava a falar dos meus cães. Eles foram com ela.
Minutos depois, diz ela:
- Eu vou sempre de férias na segunda quinzena de Setembro. Os putos já estão todos na escola e não tenho de os aturar.
Calei-me. Tenho de respeitar esta forma de pensar. Tenho de aceitar que há pessoas que amam mais os cães do que os irmãos, que preferem o som do ladrar de um cão ao som da gargalhada de uma criança. No fundo, sinto alguma pena, confesso. Julgo que nestes casos, há muita falta de amor, de toque, de calor humano. E não digo isto achando que, por ter filhos, sou mais do que os outros. Sempre pensei assim, mesmo antes de ser mãe. Lembro-me de ir para a praia e gostar de ficar ao pé dos miúdos das colónias de férias porque gostava e gosto de os ver e ouvir.
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Bom, depois de escrever isto, vi a Crónica Criminal do programa da manhã da TVI e, caros leitores, digo-vos uma coisa, quanto mais conheço as pessoas, mais eu gosto do meu cão.