02 July 2015

Unbalanced

Desapareci daqui, sim. Há alturas em que o nosso tudo é muito pouco interessante.
 
Estou grávida. 36 semanas, quase lá. Sinto tudo. Sinto muito desde o dia em que soube. Tenho a cabeça completamente cheia, o coração apertadinho, à espera de poder soltar-se e crescer.
 
E é só isso.
 
Ser mãe é lindo, é absolutamente transformador, é arrebatador. Mas, admito, é também de certa forma redutor. Sobrepõe-se a tudo. Megalomanamente. Tenho de lutar contra a tendência de me anular como mulher, como apreciadora das coisinhas da vida. Quero basicamente saber se o Biscoito está bem, se vai ficar feliz quando o mano nascer. Se o bebé que aí vem está a crescer bem, se está pleno de saúde, se a minha barriga mexe, se mexe muito, se mexe pouco. Tudo o resto - a crise na Grécia, a prisão do Sócrates, as eleições, os ataques terroristas, o novo álbum da Roísín Murphy, o último filme do David Fincher, a melhor série de 2014 - são meras distrações, são passatempos que pouco ou nada me interessam. Não digo isto com orgulho. Pelo contrário, sinto que tenho de contrariar esta tendência, remar contra a maré.
 
Anteontem estive com uma amiga que foi mãe há 8 meses. Estivemos juntas umas 3 ou 4 horas e ela não falou doutra coisa senão do seu bebé. Está feliz. Mas e o resto? Se não fosse mãe teria visto, absorvido e sentido tantas outras coisas ao longo destes 8 meses, não é? Sendo uma recém-mãe, sentiu muito, não tenho dúvidas, mas houve tantas outras sensações que lhe passaram despercebidas.
 
Acaba por chegar um equilíbrio, sim. Mas demora o seu tempo. O meu equilíbrio tinha chegado pouco antes de engravidar de novo. E agora estou completamente desequilibrada. Grande, redonda e obcecada.
 
Mas hei-de voltar. E voltarei, com certeza, numa versão melhorada. Até lá!